quarta-feira, 27 de maio de 2009

QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS NA EDUCAÇÃO

A) Pergunta desencadeadora:
Como você se sente como aluno negro nesta escola?

Após a leitura dos textos sugeridos, realizei a atividade com o aluno num ambiente calmo, tive paciência de ouvir e cuidei para não falar por ele.
Iniciei falando que gostaria de conversar, ele me encheu de perguntas, expliquei que era uma atividade da faculdade e queria ouvir o que ele quisesse falar sobre a minha pergunta.
Perguntei: Como você se sente como aluno negro nesta escola? Ele respondeu, “todo mundo me chama de neguinho sarará, o fulano, me chama também, mas ele não é meu amigo. Alguns me chamam de nego beiçudo, outros de neguinho burro, barrigudo ou gordo. Mas eu tenho bastante amiga que gostam de mim.”
O aluno tem 10 anos, está na 3ª série, é filho adotivo, inteligente, espontâneo e muito amado pela família e demais conhecidos. Sabe que é uma pessoa igual às outras mesmo sendo de cor diferente. Disse que tem muitos amigos, e os apelidos que recebe são de alunos que não considera seus amigos.
Contou que adora brincar de vôlei, futebol, amarelinha, pega-pega, pratica taekwondo e se precisar brigar para defender uma amiga ele briga. Gosta muito da sua cor e não se incomoda porque os irmãos e os pais têm pele clara. Acredita em Deus, sabe rezar, diz que Jesus está sempre olhando e cuidando dele, que deve sempre fazer o bem a todos.
Adora ouvir música e dançar rock, funk, sertaneja. É uma criança extrovertida, família de classe média, pais comerciantes e dedicados aos filhos.
Perguntei como era o relacionamento dele com a professora, ele respondeu que gosta muito dela e que recebe atenção normal como os demais colegas brancos.
Percebi que apesar de não gostar de ser chamado de negro, ao comentar sobre os demais colegas da sala se referiu a uma colega dizendo que era neguinha igual a ele. Sem intenção de gerar algum conflito, perguntei o que ele fazia quando era ofendido com os apelidos que não gostava, ele respondeu de falava para a professora e ela pedia para que os colegas parassem e respeitassem uns aos outros. Mas quando perguntei se a professora normalmente conversava de alguma forma sobre afro-descendentes, ele respondeu que não.

Pensamos ser de fundamental importância um olhar na multiculturalidade existente em nossas salas de aula e especialmente no ethos da tradição africana ainda muito presente, que deve ser explicitado, principalmente através das nove (09) dimensões da expressão afrocultural. (pag.3)


B) Dimensões da expressão afro-cultural:

A partir da leitura do texto “Auto Imagem e Auto-Estima na Criança Negra: um Olhar sobre o seu Desempenho Escolar”, de Marilene Leal Paré, identifiquei algumas dimensões da expressão afro-cultural no aluno entrevistado.
· ESPIRITUALIDADE – que mostra um conhecimento de uma força de vida não-material a qual permeia todas as atividades humanas.
· MOVIMENTO – característica dada numa trama de movimentos, dança, percussão e ritmo observados na batida musical.
· ENTUSIASMO – receptividade especial a níveis relativamente altos de estímulos.
· AFETO – importância da informação afetiva e da expressão emocional ligadas à co-importância dos sentimentos e pensamentos.
· ORALIDADE – a importância dos modelos oral / aural da comunicação para transmitir um significado verdadeiro e cultivar a ação da fala.


Observando o aluno percebi a dimensão da espiritualidade, ele acredita em Deus, sabe que é querido, amado e importante para muitas pessoas da família e amigos.
De acordo com a nossa conversa demonstrou características da dimensão movimento, quando disse que adora dançar e cantar músicas, é animado e divertido.
Em relação às dimensões de entusiasmo, afeto e oralidade, no início da conversa já estavam explícitas, quando se mostrou interessado, atencioso, falando carinhosamente dos amigos, família e professora, se expressando de forma clara e objetiva. Tendo consciência de que somos todos iguais, indiferente de raça ou de cor e que devemos ter respeito por todas as pessoas.
Percebo que diante de um mundo individualista e competitivo, para muitas pessoas a diferença é motivo de discriminação. Mas nós educadores podemos mudar esse preconceito dentro e fora da escola, buscando um mundo mais solidário, onde a diferença é motivo de enriquecimento e complementação.

Muitas são as vias, que nós,educadores,criativamente, podemos traçar para atender as essências contidas nas vozes dos alunos afro-brasileiros,no entanto, a Dra. em Educação da Emory, Universidade dos Estados Unidos, no curso promovido pelo NAP (Letras- UFRGS), afirmou que os professores devem ser orientados no sentido de entender as culturas, mudar as crenças preconceituosas que eles têm sobre os alunos, de modo a descobrirem o gênio que há dentro de cada criança. (pag.3)


Referências bibliográficas:

PARÉ, Marilene Leal. Auto Imagem e Auto-Estima na Criança Negra: um Olhar sobre o seu Desempenho Escolar.
PARÉ, Marilene Leal. Dimensões da Expressão Afro-Cultural.

Um comentário:

Rosângela disse...

Oi Fabi,

O Portfólio de Aprendizagem é um espaço para o registro do processo de aprendizagem de vocês e isso inclui: dificuldade, desafios, novos saberes, dúvidas, etc...Trata-se de reflexões que surgem a partir das atividades que vocês realizam no curso. Não cabe aqui postar uma atividade da interdisciplina, pois tal atividade já cumpriu seu objetivo quando postada e comentada. Procura colocar no blog elementos para além da atividade...não tem sentido repetir o trabalho feito. É preciso ir além, registrando o que a atividade te suscitou, que saberes, mudanças, reflexões, ok!!!

Então, para te ajudar nessa tarefa vou propor algumas questões que, acredito, te permitirão avançar na discussão, certo?! Os conceitos de etnia e raça estão claros pra ti? A compreensão desses conceitos orienta, de algum modo, a prática docente? A interdisciplina de Questões Étnico-Raciais tem oferecido elementos teórico-práticos que podem orientar teu trabalho como professora? De que modo o professor pode abordar as questões étnico-raciais em sala de aula?

Voltarei em breve para seguirmos conversando. Beijos, Rô Leffa